O bagunceiro.

Quando descobrem que sou professor universitário, as pessoas geralmente me perguntam:
- “Você dá aulas de quê?”
Sempre respondo que dou aulas de bagunça.
Por mais que provoque sorrisos, é uma resposta sincera e muito verdadeira.
Sou mesmo um bagunceiro.


Desarrumo os condicionamentos dos meus alunos com provocações para fazê-los pensar/agir fora da caixinha, do óbvio, dos clichês, das frases feitas.
Desorganizo seus lugares-comuns e convido cada um a ser senhor de seus pensamentos e autor de sua própria história.
Confundo seus olhares para que percebam que a leitura do mundo antecede a leitura da palavra, como nos ensinou Paulo Freire.
Baderno seus pressupostos para que ousem formular novas perguntas e questionar velhas respostas.


Segundo Donald Schön, os educadores expressam sua insatisfação com um currículo profissional que não é capaz de preparar os estudantes para a atuação competente em zonas incertas de prática onde podem acontecer momentos instáveis e conflituosos. Em outras palavras, preparar para as bagunças; como o arquiteto e filósofo Russel Ackoff (1979) chama estas situações incertas e mal definidas. A vida é mesmo uma bagunça, um caos de possibilidades. (...)


A convivência com um professor pouco tradicional, que os ensina a tomar decisões em condições de incertezas e está disponível presencial e virtualmente cria novas pontes afetivas. E relação é diálogo, troca de ideias, exercício de doação recíproca. Afinal, o aluno não é apenas cognição. Ele também é sentidos e sentimentos. Acredito que o professor que valoriza a emoção cria um ambiente favorável para a promoção de pessoas emocionalmente saudáveis.


Nesse aparente caos estratégico consigo adaptar meu programa de ensino ao curso real de suas vidas, procurando construir conhecimentos para carreiras sustentáveis.
Aprendi com Bartolomeu Campos de Queirós que a “A vida é verbo. Passado, presente e futuro. A vida é cheia de enigmas. Quem colocou a água dentro do coco? A vida é uma grande fantasia. A criança vive de fantasia, portanto, vive de realidade. A tarefa do professor é confirmar a presença dessa criança no mundo.”


A questão norteadora da pesquisa realizada se refere exatamente às formas que utilizo em minha prática pedagógica. E o afeto está presente em todas elas.
Sou o pesquisador participante deste trabalho. Mas também sou a hipótese viva da pesquisa. Sou um professor universitário. Meus alunos e eu somos usuários das NTDICs.
Durante meu curso utilizo ações projetuais do Design para criar processos interativos de ensino-aprendizagem vinculados às Novas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação.


Estas ações projetuais estão descritas e exemplificadas no portal da dissertação e no documento impresso que os professores doutores aqui presentes tiveram acesso. Se esta digníssima banca aprovar o meu pensamento serei oficialmente um Mestre designer cognitivo de jovens universitários de Comunicação Social.
Mas podem me chamar de professor texto, o bagunceiro.
(Grifo de minha defesa de Mestrado realizada e aprovada pela PUC-Rio  no dia 02 de setembro de 2011)
Arte: Ursus Werhli - 'The Art of Clean Up'